Machado de Assis: Um Visionário das Fake News
Machado de Assis antecipa as fake news em O Segredo do Bonzo, satirizando manipulação, superficialidade e busca por fama.
Em O Segredo do Bonzo, conto publicado em 1882, Machado de Assis, com sua perspicácia habitual, satiriza a superficialidade, a manipulação e a busca pela fama na sociedade. Apresentado como um "Capítulo inédito de Fernão Mendes Pinto", explorador português conhecido por seus relatos fantasiosos, o conto antecipa, de forma surpreendente, o que hoje chamamos de fake news.
A trama se desenrola em Fuchéu, capital do reino de Bungo, uma cidade fictícia que serve de palco para a crítica social de Machado. Os personagens, com nomes sugestivos como Pomada (o bonzo) e Patimau (o “descobridor” da origem dos grilos), ilustram a capacidade humana de acreditar em teorias absurdas e a manipulação da opinião pública em busca de fama e reconhecimento.
A antecipação do conceito de fake news se torna evidente na figura de Titané, o alparqueiro, que inventa qualidades e notícias falsas para promover suas alparcas. Utilizando o jornal local, chamado Vida e Claridade das Cousas Mundanas e Celestes, ele manipula a informação para criar uma aura de desejo em torno de seus produtos — uma estratégia que ecoa as práticas do marketing moderno e a disseminação de notícias falsas na internet.
A crítica de Machado se estende também à medicina da época, satirizada na "cura" dos narizes inchados com narizes "metafísicos", um procedimento realizado pelo personagem Diogo Meireles. A crença em soluções milagrosas e a ausência de rigor científico, representadas pela aceitação do tratamento, revelam a fragilidade do conhecimento e a vulnerabilidade humana à manipulação.
O Segredo do Bonzo, apesar de escrito no século XIX, mantém sua relevância na atualidade. A crítica à superficialidade, à manipulação da informação e à desvalorização do conhecimento genuíno continua extremamente pertinente em uma sociedade cada vez mais influenciada pela mídia e pelas redes sociais.
Através do humor e da ironia, Machado de Assis nos convida a questionar a verdade, a desconfiar das aparências e a buscar conhecimento verdadeiro — um alerta essencial em tempos de fake news e pós-verdade.
Para saber mais:
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