Anatomia do Conto: A Igreja do Diabo (1883)
Em A Igreja do Diabo, Machado ironiza a hipocrisia humana, revelando nossa incapacidade de seguir qualquer moralidade absoluta.
Título: “A Igreja do Diabo”
Publicações: Gazeta de Notícias (1883) e Histórias sem data (1884)
Sinopse: O conto narra a história do Diabo, cansado de seu papel desorganizado, decidindo fundar uma igreja para combater e destruir outras religiões. Ele se apresenta aos homens como o "gênio da natureza" e prega uma doutrina que inverte os valores tradicionais, reabilitando a soberba, a luxúria, a preguiça, a ira, a gula e a inveja, e incentivando a fraude e a venalidade. A igreja prospera, mas o Diabo descobre que muitos de seus fiéis praticam secretamente as antigas virtudes. Intrigado, ele retorna a Deus, que lhe explica que essa é a eterna contradição humana: as capas de algodão agora têm franjas de seda, assim como as de veludo tiveram franjas de algodão.
Principais personagens:
Diabo: Protagonista do conto, é um ser astuto e eloquente que busca poder e reconhecimento.
Deus: Representa a ordem e a moral tradicionais, confrontando a proposta do Diabo com serenidade e onisciência.
Ancião: Personifica a virtude e a bondade humanas, contrastando com a doutrina do Diabo.
Fiéis da Igreja do Diabo: Representam a humanidade e sua inconstância moral.
Moral do conto: A moral do conto reside na crítica à hipocrisia e à inconsistência da natureza humana. Machado de Assis usa a alegoria da igreja do Diabo para mostrar que, mesmo quando se busca negar os valores tradicionais, a humanidade é incapaz de se manter fiel a um único sistema moral. A "eterna contradição humana" aponta para a complexidade da ética e a dificuldade de definir o bem e o mal de forma absoluta.
Leitura Atual: O conto pode ser relido à luz da atualidade considerando a constante tensão entre valores tradicionais e novas ideias. A proliferação de ideologias e a polarização social podem ser vistas como manifestações da "igreja do Diabo" contemporânea, onde a busca por poder e a manipulação da verdade prevalecem sobre a ética e a compaixão. A crítica de Machado à hipocrisia humana permanece relevante em um mundo marcado por discursos moralistas e ações contraditórias.
Tempo médio de leitura: 9 minutos e 21 segundos.